O polonês que fez arte em mosaico para os cariocas

Obra de Gryner dignifica fachada do prédio - Artista polonês investiu no Brasil

Gryner enriqueceu o Rio com obras em mosaico realizadas nos anos 50, em Laranjeiras

Rachmil Mendel Gryner, o artista polonês das tintas e do mosaico, faleceu em 2009, depois de uma longa vida dedicada à arte, notadamente aos mosaicos.

Suas obras dos anos 50 revelam a grandeza da arte mural no Rio de Janeiro através da linguagem das tesselas.

Obra está no prédio em que Gryner residia - O prédio é na rua Senador Vergueiro

No Rio de Janeiro, de tantos encantamentos, descobri até por acaso uma série de obras importantes que Rachmil Mende Gryner realizou em mosaico na Cidade Maravilhosa.

Rachmil Mendel Gryner, este é o artista.

É incrível, mas a única referência a seu respeito na Internet está em uma pequena citação no Dicionário do Júlio Louzada, que contém praticamente todo o universo de artistas brasileiros. O dicionarista das artes informa apenas que o artista assina suas peças como “Gryner”, e que é oriundo da cidade de Ilza, na Polônia, onde nasceu em 1917. É pouco, mas diz muito.

Logo descobri outra coisa: Gryner é pai do altamente qualificado executivo Leonardo Gryner, diretor de marketing do Comitê Brasileiro dos Jogos Olímpicos de 2007. Trata-se de um profissional da maior competência, formado em matemática pela PUC do Rio e outros títulos que impulsionaram sua carreira profissional. Por muitos anos, foi diretor de esportes da Rede Globo.

Mas importa aqui assinalar a presença do artista Rachmyl Mendel Gryner e sua obra no Rio de Janeiro, cidade que adotou e onde viveu por muitos anos, plantando cores e alegrando a vida.

Vou contar como ocorreu meu primeiro encontro com sua obra: há coisa de dois anos, dirigi-me à rua Soares Cabral, em Laranjeiras, para visitar a filha e a neta do grande artista e mosaicista Paulo Werneck. Na ocasião, eu me encontrava na Rua Paissandu, no Flamengo, e resolvi ir a pé. No caminho, já tendo alcançado a Soares Cabral, vislumbrei por trás das grades de um prédio residencial, três belíssimos painéis em mosaico, sendo dois realizados integralmente em pedras e um terceiro em pastilhas. Quanto a este, pensei num primeiro momento que se tratava de obra de Paulo Werneck que é, a meu ver, o maior mosaicista do século XX, tendo realizado obras pioneiras no Rio, em Minas e em Brasília, onde resido. Mas estava enganado. Logo percebi de longe que havia outra assinatura na obra. Na ocasião, não pude ingressar no prédio. Havia uma grade afastando os curiosos do local e não cheguei a ver nenhum porteiro. De longe mesmo, eu fotografei. E ao chegar em casa e ampliar a foto, identifiquei a assinatura: RMGryner. Só consegui saber alguma coisa a seu respeito (o nome inteiro, o ano de nascimento e o país de origem no fantástico levantamento de Júlio Louzada).

Pouco depois, encontrei o nome de Rachmil Mendel Gryner numa antiga lista telefônica. Falei com ele e falei com a esposa, mas logo percebi que, além da idade avançada de ambos, um problema dificultava nosso entendimento: aquela sensação de insegurança do outro lado da linha. Enfim, todos nós sabemos o que é o Rio de Janeiro de hoje (e o que é o Brasil inteiro, afinal de contas). Sabemos que ninguém pode vacilar em conversas com desconhecidos. Compreendi a questão e eles me passaram o telefone do filho, para quem liguei dois ou três dias depois, num domingo. Encontrei-o , pelo celular, almoçando com os pais numa Churrascaria da Rua Senador Vergueiro, no Flamengo, que é bem perto da antiga casa de meus pais, na rua Paissandu, e justamente no local em que eles (os meus pais) costumavam freqüentar, antes de falecerem. Achei muita coincidência.

Minha emoção foi maior do que minha racionalidade e o interesse pela busca de dados referenciais do artista. A conversa não avançou objetivamente, mas cheguei a procurar Rachmil Mendel Gryner por uma lista telefônica da Web. E fui até sua residência, num edifício de apartamentos na Rua Senador Vergueiro. O porteiro me avisou que ele não estava, mas já na portaria pude admirar uma outra obra de Gryner nas paredes de entrada. O porteiro do edifício me disse que ele realizou a peça com ajuda dos seus alunos do curso de mosaico, uma espécie de aula prática, que resultou em um belo trabalho artístico, embelezando a entrada do edifício em que morava.

Além da obra em pastilhas, outro mural em pedras - Obras de arte valorizam prédio em Laranjeiras

Como o projeto deste site é identificar e comentar o universo da linguagem das tesselas nos painéis em mosaico de todo o Brasil, considero essencial anotar a presença de um artista polonês nessa atividade e sua participação na grande aventura que foi o emprego do mosaico como linguagem plástica no rico período de verticalização das grandes cidades nas décadas de 40, 50 e início dos anos 60.

Fonte: mosaicosdobrasil

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