Mário Carneiro e seu legado em mosaico: uma obra para a posteridade

O resgate do painel em mosaico de Mário Carneiro na via pública de Copacabana

O arquiteto, fotógrafo, pintor e diretor de cinema Mário Carneiro pode não ter realizado o mesmo reconhecimento público de grandes nomes como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, mas sua contribuição para o Cinema Novo e as artes brasileiras é inegável. Entre as várias facetas de sua genialidade, um de seus legados mais singulares é o painel em mosaico localizado na esquina das ruas Bolívar e Pompeu Loureiro, em Copacabana, Rio de Janeiro.

Um artista multifacetado do Cinema Novo

Mário Carneiro, filho do embaixador Paulo Carneiro, nasceu em Paris, mas foi no Brasil que construiu uma carreira marcante. Apaixonado pela fotografia desde cedo, modernizou-se na obra de Edgar Brasil, diretor de fotografia do icônico filme Limite , de Mário Peixoto. Essa paixão o levou a se tornar um dos maiores diretores de fotografia do período do Cinema Novo, movimento que revolucionou a estética cinematográfica brasileira entre o final dos anos 50 e o fim da ditadura militar.

Além de sua trajetória no cinema, Carneiro também foi um artista plástico dedicado. Estudou pintura com Iberê Camargo e participou de exposições importantes, incluindo edições da Bienal de São Paulo e eventos internacionais em Paris. Suas gravuras e pinturas exploraram formas e núcleos de maneira tão impactante quanto suas imagens cinematográficas.

O artista preso e o professor na prisão

Nos anos de liderança da ditadura militar, Mário Carneiro foi preso em 1967/68, compartilhando uma cela com Glauber Rocha. Durante esse período sombrio, sua arte não foi silenciada; pelo contrário, ele ensinou pintura e desenho ao companheiro de cárcere, evidenciando como sua criatividade transcendeu as limitações impostas pela repressão.

Um mosaico em Copacabana e um legado modernista

Entre os muitos talentos de Mário Carneiro, seu trabalho em mosaico talvez seja o menos conhecido, mas não menos significativo. O painel localizado em Copacabana é uma obra que não apenas evidencia suas novidades artísticas, mas também homenageia a tradição modernista brasileira.

Em um momento em que artistas como Portinari, Di Cavalcanti, Paulo Werneck e Lívio Abramo popularizavam o uso de pastilhas de cerâmica em murais e painéis, Carneiro uniu-se a essa tendência com uma assinatura própria. Ele fez questão de apoiar o mosaico com todas as letras, sinalizando o orgulho e a importância que atribuía à obra.

A peça, situada na parede externa de um edifício na esquina da Rua Bolívar com a Rua Pompeu Loureiro, continua bem preservada, apesar de algumas interferências, como os cactos plantados em sua base – uma tentativa provável de proteger o local de cachorros e outros intrusos . Ainda assim, a obra mantém sua visibilidade e se destaca como um marco artístico da região.

Conheça a obra de Mário Carneiro

Para quem está no Rio de Janeiro, visitar o mosaico de Mário Carneiro é uma oportunidade de se conectar com a história e a arte brasileira. A obra está em excelente estado de conservação e carrega consigo a essência do modernismo, uma época em que a arte pública tinha o poder de transformar os espaços urbanos em galerias ao céu aberto.

O legado em constante descoberta

A redescoberta do painel de Copacabana nos faz refletir sobre a extensão da obra de Mário Carneiro. Será que outras criações em mosaico, ainda desconhecidas, estão escondidas em espaços públicos ou privados? Suas vistas como arquiteto, fotógrafo, cineasta e artista plástico nos convida a explorar e valorizar ainda mais sua contribuição ao patrimônio cultural brasileiro.

Se você tiver a chance de conhecer a obra, compartilhe sua cor e contribua para manter viva a memória desse grande artista. Afinal, o legado de Mário Carneiro não está apenas em suas lentes e pincéis, mas também nos fragmentos de cerâmica que compõem essa belíssima homenagem ao modernismo brasileiro.

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